Clique no título para abrir e fechar a crônica
As Chapadas Insolentes de Urbano Santos e Santa Quitéria - Baixo Parnaíba Maranhense 03.03.09
03.03.09
Por Mayron Régis, jornalista, Fórum Carajás
Desviem-se: empregar os bacurizeiros das chapadas insolentes do Baixo Parnaíba maranhense e a teima das comunidades de São Raimundo e Bom Principio - município de Urbano Santos - que travaram possíveis projetos de soja ou eucalipto do senhor Evandro Loez para mais de três mil hectares de área de chapada - transbordante de bacurizeiros e pequizeiros - quase ao pé do município de Anapurus -, para que o Incra vistorie a área e crie um projeto de assentamento federal.
Para o agronegócio da soja e do eucalipto, os limites territorial, fundiário, social, cultural, histórico, econômico e ambiental praticamente inexistem de um município para o outro ou intramunicipio porque passa dia, e passa menos dia, as atividades de demarcação de terras, desmatamento e queima de mata nativa em baterias de carvoaria e plantios de soja e/ou eucalipto, por parte de proprietários de terra e empresas de reflorestamento, congestionam as demais atividades econômicas, sociais e ambientais existentes nos municípios e praticadas por dezenas de comunidades agroextrativistas do Baixo Parnaíba maranhense.
Afora digerir e repetir sem pensar o discurso altamente positivista - tipo "ordem e progresso" - de que grandes empreendimentos geram muitos empregos, dificilmente os articulistas e jornalistas locais responderiam quem eram os mais de mil trabalhadores que marcharam em defesa do licenciamento da Margusa/Gerdau pelo primeiro de maio de 2007, no município de Urbano Santos. Certos articulistas e jornalistas noticiaram esta marcha e seus currículos desbotaram muito por que seus comentários atendiam apenas o lado de quem arrendava, a Paineiras, e a arrendante, Margusa/Gerdau.
Faz mais de vinte anos que a Paineiras cronometra mais da metade das terras de Urbano Santos e Santa Quitéria e os seus trabalhadores são, em sua maioria, moradores locais, mas para os municípios como um todo, quais foram os ganhos? Sabemos das perdas. Queda na produção de farinha d'água, perda da biodiversidade, diminuição da vazão do rio Boa Hora, concentração de terras e especulação em cima dessas terras por parte de plantadores de soja. Um desses plantadores de soja, o Sr. Gilmar, dono de áreas em Brejo, Chapadinha e Santa Quitéria, tenta aliciar os povoados do Pólo Coceira para liberarem sua entrada em mais de vinte mil hectares que a Paineiras se diz dona. Os moradores rejeitaram a proposta do senhor Gilmar e pretendem resistir aos correntões, aos fornos e aos eucaliptos da Paineiras quando ela quiser entrar.
Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba
Por Mayron Régis, jornalista, Fórum Carajás
Desviem-se: empregar os bacurizeiros das chapadas insolentes do Baixo Parnaíba maranhense e a teima das comunidades de São Raimundo e Bom Principio - município de Urbano Santos - que travaram possíveis projetos de soja ou eucalipto do senhor Evandro Loez para mais de três mil hectares de área de chapada - transbordante de bacurizeiros e pequizeiros - quase ao pé do município de Anapurus -, para que o Incra vistorie a área e crie um projeto de assentamento federal.
Para o agronegócio da soja e do eucalipto, os limites territorial, fundiário, social, cultural, histórico, econômico e ambiental praticamente inexistem de um município para o outro ou intramunicipio porque passa dia, e passa menos dia, as atividades de demarcação de terras, desmatamento e queima de mata nativa em baterias de carvoaria e plantios de soja e/ou eucalipto, por parte de proprietários de terra e empresas de reflorestamento, congestionam as demais atividades econômicas, sociais e ambientais existentes nos municípios e praticadas por dezenas de comunidades agroextrativistas do Baixo Parnaíba maranhense.
Afora digerir e repetir sem pensar o discurso altamente positivista - tipo "ordem e progresso" - de que grandes empreendimentos geram muitos empregos, dificilmente os articulistas e jornalistas locais responderiam quem eram os mais de mil trabalhadores que marcharam em defesa do licenciamento da Margusa/Gerdau pelo primeiro de maio de 2007, no município de Urbano Santos. Certos articulistas e jornalistas noticiaram esta marcha e seus currículos desbotaram muito por que seus comentários atendiam apenas o lado de quem arrendava, a Paineiras, e a arrendante, Margusa/Gerdau.
Faz mais de vinte anos que a Paineiras cronometra mais da metade das terras de Urbano Santos e Santa Quitéria e os seus trabalhadores são, em sua maioria, moradores locais, mas para os municípios como um todo, quais foram os ganhos? Sabemos das perdas. Queda na produção de farinha d'água, perda da biodiversidade, diminuição da vazão do rio Boa Hora, concentração de terras e especulação em cima dessas terras por parte de plantadores de soja. Um desses plantadores de soja, o Sr. Gilmar, dono de áreas em Brejo, Chapadinha e Santa Quitéria, tenta aliciar os povoados do Pólo Coceira para liberarem sua entrada em mais de vinte mil hectares que a Paineiras se diz dona. Os moradores rejeitaram a proposta do senhor Gilmar e pretendem resistir aos correntões, aos fornos e aos eucaliptos da Paineiras quando ela quiser entrar.
Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba
O rastreamento dos bacurizais no Baixo Parnaíba maranhense 10.11.08
10.11.08
Por Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Em qual das partes da chapada eles estavam mesmo? Tantas chapadas e tantas bordas de chapadas que serviam e que servem os seus bacurizeiros ao rio Munim, a seus afluentes e às comunidades de agroextrativistas que bordam e que rebordam as suas atividades extrativistas em estágios curtos de conversas desapertadas como os arraiais de bacurizeiros na chapada da Vila Pandoca, na chapada do Veredão, na chapada da Vila Januário e na chapada do Sangue ou chapada da Vila Borges - município de Chapadinha - Baixo Parnaíba maranhense.
Cada uma dessas chapadas ou a chapada avariada por variantes “ fica ressentida ao menor foco de incêndio que os empreta e ao menor sinal de compra de terras por parte de gente de fora que desmata os incontáveis e indefiníveis arraiais de bacurizeiros, sucessivos a cada hectare “incêndios e desmatamentos que invalidam a produção excepcional de bacuris, com os quais dezenas de famílias de agroextrativistas cuidam de si por mais de três meses, justamente, os primeiros meses do ano, os meses chuvosos ou os meses de mais chuva na região do Baixo Parnaíba maranhense.
Na prática da coleta do bacuri, de janeiro a março, por parte dos agroextrativistas, que residem nos baixões, subsiste um sentido arcaico que os conforta, ainda que haja um baixo retorno da venda do cento do bacuri ou do quilo da polpa para os atravessadores de Chapadinha, Afonso Cunha e Teresina que se empinam sobre essas chapadas. Os agroextrativistas teimam “ enfiaram na cabeça e de lá não sai - que compete a si, apenas, a coleta do fruto, enquanto competeria a um comerciante local a compra nas mãos deles dos frutos e a sua revenda nas cidades próximas por um preço bem mais graúdo, lucrando a custa dos trabalhadores.
O calendário da coleta do bacuri, no Baixo Parnaíba maranhense, se inicia no dia 20 de janeiro e vai até o começo de abril. Os agroextrativistas, nas chapadas, vigiam o despencar dos bacuris para armazenarem em suas choupanas e ficarem a espera dos compradores. Com o final da safra, eles desmontam os acampamentos nas chapadas e voltam para os baixões e esse ciclo se repetirá quantas vezes houver bacurizeiro e comprador para os bacuris das chapadas.
Perante o capitalismo, só pode haver uma forma de repetição: a sua, que para Walter Benjamin, filósofo judaico-marxista, seria o inferno do eterno retorno. Inferno, não no sentido teológico e sim no sentido materialista histórico, de que o capitalismo escamoteou a incomparável fórmula de que a sociedade consuma os mesmos produtos sempre e sempre sem que se dê conta disso achando que a mercadoria deste ano veio sobrepujar a do ano passado. A mercadoria exposta este ano renomeia a que foi devolvida.
As comunidades se enfiarem no meio dos arraiais de bacurizeiros, o mês completo ou parte dele, para porem suas mãos sobre centenas de bacuris repete as coletas vencidas, contudo a repetição da coleta do bacuri acontece em função da continuidade de um modo de vida rural e ambiental, pois um desfecho fúnebre para toda a chapada seria que os agroextrativistas deixassem de coletar bacuris por alguma razão ou por outra.
Daqui em diante, as chapadas dos Caboclos e dos Remédios desconhecerão por completo o que foi a coleta de bacuris numa floresta prenhe de bacurizeiros botadores. Por baixo, um projeto de soja desmatou mais de 50.000 bacurizeiros em menos de um ano numa área de mil hectares. Como falou Afonso, agente de saúde, da Vila dos Caboclos: "Muita gente dependia sua vida dali".
Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba.
Por Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Em qual das partes da chapada eles estavam mesmo? Tantas chapadas e tantas bordas de chapadas que serviam e que servem os seus bacurizeiros ao rio Munim, a seus afluentes e às comunidades de agroextrativistas que bordam e que rebordam as suas atividades extrativistas em estágios curtos de conversas desapertadas como os arraiais de bacurizeiros na chapada da Vila Pandoca, na chapada do Veredão, na chapada da Vila Januário e na chapada do Sangue ou chapada da Vila Borges - município de Chapadinha - Baixo Parnaíba maranhense.
Cada uma dessas chapadas ou a chapada avariada por variantes “ fica ressentida ao menor foco de incêndio que os empreta e ao menor sinal de compra de terras por parte de gente de fora que desmata os incontáveis e indefiníveis arraiais de bacurizeiros, sucessivos a cada hectare “incêndios e desmatamentos que invalidam a produção excepcional de bacuris, com os quais dezenas de famílias de agroextrativistas cuidam de si por mais de três meses, justamente, os primeiros meses do ano, os meses chuvosos ou os meses de mais chuva na região do Baixo Parnaíba maranhense.
Na prática da coleta do bacuri, de janeiro a março, por parte dos agroextrativistas, que residem nos baixões, subsiste um sentido arcaico que os conforta, ainda que haja um baixo retorno da venda do cento do bacuri ou do quilo da polpa para os atravessadores de Chapadinha, Afonso Cunha e Teresina que se empinam sobre essas chapadas. Os agroextrativistas teimam “ enfiaram na cabeça e de lá não sai - que compete a si, apenas, a coleta do fruto, enquanto competeria a um comerciante local a compra nas mãos deles dos frutos e a sua revenda nas cidades próximas por um preço bem mais graúdo, lucrando a custa dos trabalhadores.
O calendário da coleta do bacuri, no Baixo Parnaíba maranhense, se inicia no dia 20 de janeiro e vai até o começo de abril. Os agroextrativistas, nas chapadas, vigiam o despencar dos bacuris para armazenarem em suas choupanas e ficarem a espera dos compradores. Com o final da safra, eles desmontam os acampamentos nas chapadas e voltam para os baixões e esse ciclo se repetirá quantas vezes houver bacurizeiro e comprador para os bacuris das chapadas.
Perante o capitalismo, só pode haver uma forma de repetição: a sua, que para Walter Benjamin, filósofo judaico-marxista, seria o inferno do eterno retorno. Inferno, não no sentido teológico e sim no sentido materialista histórico, de que o capitalismo escamoteou a incomparável fórmula de que a sociedade consuma os mesmos produtos sempre e sempre sem que se dê conta disso achando que a mercadoria deste ano veio sobrepujar a do ano passado. A mercadoria exposta este ano renomeia a que foi devolvida.
As comunidades se enfiarem no meio dos arraiais de bacurizeiros, o mês completo ou parte dele, para porem suas mãos sobre centenas de bacuris repete as coletas vencidas, contudo a repetição da coleta do bacuri acontece em função da continuidade de um modo de vida rural e ambiental, pois um desfecho fúnebre para toda a chapada seria que os agroextrativistas deixassem de coletar bacuris por alguma razão ou por outra.
Daqui em diante, as chapadas dos Caboclos e dos Remédios desconhecerão por completo o que foi a coleta de bacuris numa floresta prenhe de bacurizeiros botadores. Por baixo, um projeto de soja desmatou mais de 50.000 bacurizeiros em menos de um ano numa área de mil hectares. Como falou Afonso, agente de saúde, da Vila dos Caboclos: "Muita gente dependia sua vida dali".
Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba.
População comemora primeiro aniversário da Reserva Extrativista de Chapada Limpa 26.09.08
26.09.08
E apreende madeira ilegal usada para cerca na área
Por Mayron Régis, jornalista
Representantes da Superintendência do Ibama no Maranhão e do Centro de Nacional de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável (CNPT), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, participam nesta sexta-feira (26/9) das comemorações do primeiro aniversário de criação da Reserva Extrativista de Chapada Limpa, no município de Chapadinha (MA). A programação terá início às 9 horas da manhã na comunidade da Chapada Limpa I, próxima ao km-35 da rodovia estadual que liga Chapadinha ao município de Timbiras.
O evento tem como destaque a participação de representantes de outras comunidades extrativistas de localidades próximas, como a Chapada da Cabocla e a Chapada dos Remédios, para estas conhecerem o histórico do processo de criação da primeira unidade de conservação ambiental do bioma cerrado no Maranhão, que tem como produto principal do extrativismo o bacuri na região do Baixo Parnaíba (MA) que é bastante pressionada pela expansão da monocultura da soja. Além disso, a festa terá apresentações culturais locais, exposição de fotos, plantio de mudas, soltura de pássaros e outras atividades.
No final da semana passada, uma fiscalização do Ibama dentro dos limites da Reserva efetuou a apreensão de 750 mourões de madeira (quantificados em 13 metros cúbicos) oriundos de desmatamento sem autorização e utilizados na construção de uma cerca de 3,5km de perímetro destinada à criação de gado bovino, o lavrador infrator Raimundo Alves Pereira foi notificado a retirar os bois da área em um prazo de 45 dias, já havia sido multado anteriormente em R$ 2.000 (dois mil reais) por causar dano direto a unidade de conservação (inclusive com prática de queimada dentro dos limites da cerca), e a área encontra-se embargada até o devido processo de regularização fundiária. A presença da fiscalização na reserva teve como objetivo também impedir a ação de caçadores numa porção bastante preservada do cerrado maranhense, considerando que ali há grande ocorrência de animais como veado-catingueiro, pacas, cutias, tatus e papagaios.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou no dia 26 de setembro de 2007 a criação da Resex de Chapada Limpa com uma área de 11.971,24 hectares . Essa foi a quinta Resex criada no Maranhão, sendo a primeira do bioma cerrado. A administração da unidade fica a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que deverá adotar as medidas necessárias para a implantação, fiscalização e controle da unidade, providenciando o contrato de concessão de direito real de uso gratuito para a população tradicional extrativista das comunidades locais e os processos de desapropriação de imóveis rurais de legítimo domínio privado identificados dentro dos limites da reserva.
As Reservas Extrativistas são áreas utilizadas por populações tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de
subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Esse modelo de unidade de conservação tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais.
Em janeiro de 2006, o Ibama recebeu um abaixo-assinado da associação comunitária do Povoado do Juçaral, que dava início à solicitação de criação desta unidade de conservação. O Centro Nacional de Populações Tradicionais realizou várias visitas técnicas na região, para elaborar os estudos necessários que caracterizassem o potencial da área em se tornar uma unidade de conservação. Estes estudos apontaram a adequação sócio-ambiental da área para se tornar uma reserva extrativista. No dia 7 de julho de 2006 foi realizada uma Consulta Pública em Chapadinha, na qual toda a sociedade civil organizada teve a oportunidade de conhecer e opinar sobre a proposta de criação da unidade. Em seguida o processo de criação foi encaminhado a Brasília para apreciação da Ministério do Meio Ambiente e da Casa Civil da Presidência da República.
A dinâmica produtiva dos povoados da Chapada Limpa é tradicionalmente baseada no agroextrativismo. As comunidades estabelecidas na parte alta da chapada ou vizinhas a ela têm no bacuri o principal produto do extrativismo. Já as comunidades residentes nas porções baixas da região praticam o extrativismo de babaçu, como atividade geradora de renda, e o extrativismo das palmeiras típicas de ambientes alagáveis (juçara, buriti e bacaba) para consumo da família. Os moradores da região dependem também da agricultura de subsistência para suprimento de alimentos básicos, tais como arroz, feijão e milho.
Com relação ao aspecto ambiental, a criação de uma unidade de conservação no cerrado do nordeste maranhense é de grande relevância, pois se trata de um ecossistema bastante peculiar por apresentar ocorrência de espécies da caatinga e da Amazônia dentro de uma fisionomia de cerrado. Como uma área de transição entre os três biomas, a região é fundamental para o fluxo gênico de diversas espécies, favorecendo a viabilidade das populações naturais.
Em detrimento da importância ecológica desta região do Baixo Parnaíba, a conversão de áreas naturais em monocultura de soja e eucalipto ou em pastagens são ameaças reais à biodiversidade e vêm ganhando cada vez mais volume, seguindo o mesmo padrão de outras áreas de cerrado no Brasil. Este padrão de ocupação das áreas de cerrado pela expansão do agronegócio ou urbanização desordenada já é responsável pelamodificação de 80% da área original deste bioma, apenas 20% dele encontra-se preservado. A criação de unidades de conservação, nesse cenário, é considerada estratégica pelo MMA.
De acordo com o Mapa de Aptidão Agrícola dos Solos, elaborado pelo Projeto RADAM (1973), o município de Chapadinha apresenta restrições para culturas de ciclo curto, mesmo para sistemas de manejo de alta tecnologia, em função de sua alta susceptibilidade à erosão e perda rápida de fertilidade. Desta maneira, a consolidação do modelo de desenvolvimento na região baseado no monocultivo da soja geraria impactos ambientais negativos como a erosão e perda de solos férteis, o comprometimento dos recursos hídricos, desmatamento, destruição de habitats naturais de diversas espécies da fauna, riscos de desertificação e alteração dos regimes de chuva. O cerrado é o bioma mais desprovido de unidades de conservação no país, em consonância com este fato, o nordeste do Maranhão é a região com a maior lacuna em áreas protegidas do Estado.
A Reserva Extrativista de Chapada Limpa será gerida pelo Conselho Deliberativo, a ser presidido pelo Instituto Chico Mendes e deverá ter representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, sendo o mesmo responsável pela elaboração, aprovação e edição do Plano de Manejo da área visando implantar alternativas de renda que contribuam para a melhoria das condições de vida das famílias em consonância com a conservação dos recursos naturais.
E apreende madeira ilegal usada para cerca na área
Por Mayron Régis, jornalista
Representantes da Superintendência do Ibama no Maranhão e do Centro de Nacional de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável (CNPT), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, participam nesta sexta-feira (26/9) das comemorações do primeiro aniversário de criação da Reserva Extrativista de Chapada Limpa, no município de Chapadinha (MA). A programação terá início às 9 horas da manhã na comunidade da Chapada Limpa I, próxima ao km-35 da rodovia estadual que liga Chapadinha ao município de Timbiras.
O evento tem como destaque a participação de representantes de outras comunidades extrativistas de localidades próximas, como a Chapada da Cabocla e a Chapada dos Remédios, para estas conhecerem o histórico do processo de criação da primeira unidade de conservação ambiental do bioma cerrado no Maranhão, que tem como produto principal do extrativismo o bacuri na região do Baixo Parnaíba (MA) que é bastante pressionada pela expansão da monocultura da soja. Além disso, a festa terá apresentações culturais locais, exposição de fotos, plantio de mudas, soltura de pássaros e outras atividades.
No final da semana passada, uma fiscalização do Ibama dentro dos limites da Reserva efetuou a apreensão de 750 mourões de madeira (quantificados em 13 metros cúbicos) oriundos de desmatamento sem autorização e utilizados na construção de uma cerca de 3,5km de perímetro destinada à criação de gado bovino, o lavrador infrator Raimundo Alves Pereira foi notificado a retirar os bois da área em um prazo de 45 dias, já havia sido multado anteriormente em R$ 2.000 (dois mil reais) por causar dano direto a unidade de conservação (inclusive com prática de queimada dentro dos limites da cerca), e a área encontra-se embargada até o devido processo de regularização fundiária. A presença da fiscalização na reserva teve como objetivo também impedir a ação de caçadores numa porção bastante preservada do cerrado maranhense, considerando que ali há grande ocorrência de animais como veado-catingueiro, pacas, cutias, tatus e papagaios.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou no dia 26 de setembro de 2007 a criação da Resex de Chapada Limpa com uma área de 11.971,24 hectares . Essa foi a quinta Resex criada no Maranhão, sendo a primeira do bioma cerrado. A administração da unidade fica a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que deverá adotar as medidas necessárias para a implantação, fiscalização e controle da unidade, providenciando o contrato de concessão de direito real de uso gratuito para a população tradicional extrativista das comunidades locais e os processos de desapropriação de imóveis rurais de legítimo domínio privado identificados dentro dos limites da reserva.
As Reservas Extrativistas são áreas utilizadas por populações tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de
subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Esse modelo de unidade de conservação tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais.
Em janeiro de 2006, o Ibama recebeu um abaixo-assinado da associação comunitária do Povoado do Juçaral, que dava início à solicitação de criação desta unidade de conservação. O Centro Nacional de Populações Tradicionais realizou várias visitas técnicas na região, para elaborar os estudos necessários que caracterizassem o potencial da área em se tornar uma unidade de conservação. Estes estudos apontaram a adequação sócio-ambiental da área para se tornar uma reserva extrativista. No dia 7 de julho de 2006 foi realizada uma Consulta Pública em Chapadinha, na qual toda a sociedade civil organizada teve a oportunidade de conhecer e opinar sobre a proposta de criação da unidade. Em seguida o processo de criação foi encaminhado a Brasília para apreciação da Ministério do Meio Ambiente e da Casa Civil da Presidência da República.
A dinâmica produtiva dos povoados da Chapada Limpa é tradicionalmente baseada no agroextrativismo. As comunidades estabelecidas na parte alta da chapada ou vizinhas a ela têm no bacuri o principal produto do extrativismo. Já as comunidades residentes nas porções baixas da região praticam o extrativismo de babaçu, como atividade geradora de renda, e o extrativismo das palmeiras típicas de ambientes alagáveis (juçara, buriti e bacaba) para consumo da família. Os moradores da região dependem também da agricultura de subsistência para suprimento de alimentos básicos, tais como arroz, feijão e milho.
Com relação ao aspecto ambiental, a criação de uma unidade de conservação no cerrado do nordeste maranhense é de grande relevância, pois se trata de um ecossistema bastante peculiar por apresentar ocorrência de espécies da caatinga e da Amazônia dentro de uma fisionomia de cerrado. Como uma área de transição entre os três biomas, a região é fundamental para o fluxo gênico de diversas espécies, favorecendo a viabilidade das populações naturais.
Em detrimento da importância ecológica desta região do Baixo Parnaíba, a conversão de áreas naturais em monocultura de soja e eucalipto ou em pastagens são ameaças reais à biodiversidade e vêm ganhando cada vez mais volume, seguindo o mesmo padrão de outras áreas de cerrado no Brasil. Este padrão de ocupação das áreas de cerrado pela expansão do agronegócio ou urbanização desordenada já é responsável pelamodificação de 80% da área original deste bioma, apenas 20% dele encontra-se preservado. A criação de unidades de conservação, nesse cenário, é considerada estratégica pelo MMA.
De acordo com o Mapa de Aptidão Agrícola dos Solos, elaborado pelo Projeto RADAM (1973), o município de Chapadinha apresenta restrições para culturas de ciclo curto, mesmo para sistemas de manejo de alta tecnologia, em função de sua alta susceptibilidade à erosão e perda rápida de fertilidade. Desta maneira, a consolidação do modelo de desenvolvimento na região baseado no monocultivo da soja geraria impactos ambientais negativos como a erosão e perda de solos férteis, o comprometimento dos recursos hídricos, desmatamento, destruição de habitats naturais de diversas espécies da fauna, riscos de desertificação e alteração dos regimes de chuva. O cerrado é o bioma mais desprovido de unidades de conservação no país, em consonância com este fato, o nordeste do Maranhão é a região com a maior lacuna em áreas protegidas do Estado.
A Reserva Extrativista de Chapada Limpa será gerida pelo Conselho Deliberativo, a ser presidido pelo Instituto Chico Mendes e deverá ter representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, sendo o mesmo responsável pela elaboração, aprovação e edição do Plano de Manejo da área visando implantar alternativas de renda que contribuam para a melhoria das condições de vida das famílias em consonância com a conservação dos recursos naturais.
TEMPO DE ACUMULAÇÃO. TEMPO DE DISSIPAÇÃO 18.07.08
18.07.08
Por Mayron Regis
A certa altura da novela “O Pantanal”, reprisada pelo Sistema Brasileiro de Televisão, a atual esposa do fazendeiro e a cunhada deste do primeiro casamento digressionam ao verem-no viajar de avião rumo a Campo Grande para vender seu gado enquanto que anos atrás ele saia em cortejo com seus vaqueiros numa viagem que duraria semanas.
A novela “O Pantanal” data de 1990, justamente, o primeiro ano do governo Fernando Collor de Mello que prenunciou os anos subseqüentes de modernização conservadora a que foi submetida a sociedade brasileira. Nela, o autor Benedito Ruy Barbosa roteirizou o Pantanal e seus atributos (vegetação, gado, vaqueiros, aves, animais terrestres e água) como uma realidade monocórdia, sem maiores tensões sociais a não ser breves comentários sobre reforma agrária.
Os fazendeiros prestariam um favor a si mesmo, caso tivessem prestado atenção à cena do vôo. Nela se percebe o papel da tecnologia em integrar mercados distantes, como a zona do Pantanal, ao mercado de São Paulo. Este condensa ao seu redor e para seu usufruto todas as conveniências de comportar o maior mercado consumidor brasileiro. Nos bons tempos, o fazendeiro, representado por Cláudio Marzo, viajava com os vaqueiros para vender o seu gado em Campo Grande. Nos tempos atuais, a sua única preocupação é assinar contratos com grandes frigoríficos que exportarão a carne para Europa e Ásia. Aparenta que a única mudança primordial está no envelhecimento do fazendeiro tradicional que envelhece assim como envelhece a terra de onde ele tira seu sustento. As mudanças aconteceriam mesmo sem o consentimento dele, pois elas vêm quando as classes médias urbanas desejam consumir produtos de ponta. Então, o fazendeiro precisa vender rapidamente o gado que amealhou para que a sua fazenda adquira mais produtos industrializados e mais aparato tecnológico.
Modernizar o mercado brasileiro foi preciso, diríamos a respeito do governo Fernando Collor de Mello. O tiro disparado por este governo se direcionava para o aceleramento do consumo de produtos importados das classes médias porque só deste modo a indústria nacional se sentiria provocada a produzir bens de qualquer espécie em curto espaço de tempo. Essa modernização continuou e continua nos governos do PSDB e do PT que a vem aprofundando principalmente no uso intensivo dos recursos naturais, na flexibilização das legislações ambientais e na uniformização do cidadão. O tempo de acumular receita foi posto na berlinda para porem em seu lugar o tempo do dissipar. O que isso significa? O que isso resulta? O fazendeiro ou o industrial via a sua propriedade como um reservatório de onde se tirava pouco a pouco recursos para investir. De uma hora para outra, esse reservatório se revelou contraproducente: uma fazenda que possui milhares de hectares e que produz em ¼ da sua extensão ou uma fábrica que tem capacidade para fabricar e exportar muita mercadoria e que só vende no mercado interno.
No caso da economia brasileira, defasada tecnologicamente e endividada junto a bancos privados, a maneira pensada para capitalizá-la foi expropriar mais e mais os recursos naturais: terra, água, minérios e etc. Só que no intercurso, antes da chegada, havia populações tradicionais pelo meio, afinal desde o primeiro governo do PSDB as regiões mais visadas pelo poderio econômico são regiões onde moram populações tradicionais.
A análise da conjuntura sócio-econômica brasileira a partir de uma novela do fim dos anos 80 recomenda que deva se recusar o modelo estanque de realidade que muita das vezes é defendido pelos meios de comunicação de massa. O Mato Grosso do Sul é um dos estados onde as atividades econômicas que usam intensivamente os recursos naturais (eucalipto, soja, cana e siderurgias) trituraram a estrutura agrária tradicional e, por conseguinte, todo um modo de vida.
Deve ser posto em descrédito o discurso da sustentabilidade do processo produtivo do etanol quando se sabe que, observando o mapa da região onde se concentram os canaviais, este processo se dá a custa de consumo intensivo de petróleo. Como assim? Os governos estaduais e federal e a iniciativa privada investem pesado em atividades produtivas que usam derivados de petróleo e essas atividades acarretam a urbanização de áreas que antes eram florestas. Enquanto isso o etanol é exportado.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Por Mayron Regis
A certa altura da novela “O Pantanal”, reprisada pelo Sistema Brasileiro de Televisão, a atual esposa do fazendeiro e a cunhada deste do primeiro casamento digressionam ao verem-no viajar de avião rumo a Campo Grande para vender seu gado enquanto que anos atrás ele saia em cortejo com seus vaqueiros numa viagem que duraria semanas.
A novela “O Pantanal” data de 1990, justamente, o primeiro ano do governo Fernando Collor de Mello que prenunciou os anos subseqüentes de modernização conservadora a que foi submetida a sociedade brasileira. Nela, o autor Benedito Ruy Barbosa roteirizou o Pantanal e seus atributos (vegetação, gado, vaqueiros, aves, animais terrestres e água) como uma realidade monocórdia, sem maiores tensões sociais a não ser breves comentários sobre reforma agrária.
Os fazendeiros prestariam um favor a si mesmo, caso tivessem prestado atenção à cena do vôo. Nela se percebe o papel da tecnologia em integrar mercados distantes, como a zona do Pantanal, ao mercado de São Paulo. Este condensa ao seu redor e para seu usufruto todas as conveniências de comportar o maior mercado consumidor brasileiro. Nos bons tempos, o fazendeiro, representado por Cláudio Marzo, viajava com os vaqueiros para vender o seu gado em Campo Grande. Nos tempos atuais, a sua única preocupação é assinar contratos com grandes frigoríficos que exportarão a carne para Europa e Ásia. Aparenta que a única mudança primordial está no envelhecimento do fazendeiro tradicional que envelhece assim como envelhece a terra de onde ele tira seu sustento. As mudanças aconteceriam mesmo sem o consentimento dele, pois elas vêm quando as classes médias urbanas desejam consumir produtos de ponta. Então, o fazendeiro precisa vender rapidamente o gado que amealhou para que a sua fazenda adquira mais produtos industrializados e mais aparato tecnológico.
Modernizar o mercado brasileiro foi preciso, diríamos a respeito do governo Fernando Collor de Mello. O tiro disparado por este governo se direcionava para o aceleramento do consumo de produtos importados das classes médias porque só deste modo a indústria nacional se sentiria provocada a produzir bens de qualquer espécie em curto espaço de tempo. Essa modernização continuou e continua nos governos do PSDB e do PT que a vem aprofundando principalmente no uso intensivo dos recursos naturais, na flexibilização das legislações ambientais e na uniformização do cidadão. O tempo de acumular receita foi posto na berlinda para porem em seu lugar o tempo do dissipar. O que isso significa? O que isso resulta? O fazendeiro ou o industrial via a sua propriedade como um reservatório de onde se tirava pouco a pouco recursos para investir. De uma hora para outra, esse reservatório se revelou contraproducente: uma fazenda que possui milhares de hectares e que produz em ¼ da sua extensão ou uma fábrica que tem capacidade para fabricar e exportar muita mercadoria e que só vende no mercado interno.
No caso da economia brasileira, defasada tecnologicamente e endividada junto a bancos privados, a maneira pensada para capitalizá-la foi expropriar mais e mais os recursos naturais: terra, água, minérios e etc. Só que no intercurso, antes da chegada, havia populações tradicionais pelo meio, afinal desde o primeiro governo do PSDB as regiões mais visadas pelo poderio econômico são regiões onde moram populações tradicionais.
A análise da conjuntura sócio-econômica brasileira a partir de uma novela do fim dos anos 80 recomenda que deva se recusar o modelo estanque de realidade que muita das vezes é defendido pelos meios de comunicação de massa. O Mato Grosso do Sul é um dos estados onde as atividades econômicas que usam intensivamente os recursos naturais (eucalipto, soja, cana e siderurgias) trituraram a estrutura agrária tradicional e, por conseguinte, todo um modo de vida.
Deve ser posto em descrédito o discurso da sustentabilidade do processo produtivo do etanol quando se sabe que, observando o mapa da região onde se concentram os canaviais, este processo se dá a custa de consumo intensivo de petróleo. Como assim? Os governos estaduais e federal e a iniciativa privada investem pesado em atividades produtivas que usam derivados de petróleo e essas atividades acarretam a urbanização de áreas que antes eram florestas. Enquanto isso o etanol é exportado.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
A GEOGRAFIA DOS CANAVIAIS 23.05.08
23.05.08
Por Mayron Régis, jornalista
É bem provável que, nessa história de agrocombustíveis, o Maranhão seja visto como a periferia da periferia, assim como já é visto com relação à produção da soja. Os maranhenses deveriam dar graças a Deus que o Maranhão possui as piores terras para a produção de grãos em todo o Brasil, como se enfada de dizer o atual presidente do sindicato de empresas de ferro-gusa do Maranhão, o senhor Cláudio Azevedo, mas constrange a inteligência de qualquer bom samaritano que o Estado sequer tenha sido lembrado na defesa do etanol quando da visita da chanceler alemã Ângela Merkel.
Os afortunados empresários do setor sucro-alcooleiro paulista assustam qualquer um com sua geografia dos canaviais, na qual a monocultura permanece estática em São Paulo sem apelar para novas áreas na Amazônia ou áreas próximas a ela. Uma geografia desse tipo só existiria em livros de décadas atrás que formavam estudantes em uma Geografia acrítica e despolitizada, que privilegiava a decoreba e contrasta com uma geografia que sai atrás para identificar as, e ponderar sobre as transformações socioambientais provocadas pela ação do homem no meio em que vive e no meio do qual ele vive. A Economia - os empresários a preferem em detrimento a outras ciências -, como ciência aparentada da Matemática, simplificaria essa ação humana no sentido de mera obtenção de recursos de um meio para a sua manutenção em outro e de tão raso do ponto de vista econômico quem investiria horas de trabalho para ponderar sobre as causas e as conseqüências “dessa mera obtenção de recursos”?
Cabe à Geografia descrever, além da superfície onde se pesquisam os recursos, as causas e as conseqüências “dessa mera obtenção de recursos” ou pelo menos relembrar aos afortunados que boa parte do estado do Maranhão interage com a Floresta Amazônica ou com o que sobrou dela depois do desarrumo causado por madeireiras e siderúrgicas. O ritmo das chuvas que vai do começo de dezembro ao mês de maio exprime o quanto o Maranhão intima a sua vida produtiva em consonância à umidade vinda da floresta.
É um crime contra a inteligência do indivíduo e contra a vida na zona rural que a legislação ambiental diferencie Amazônia, Cerrado e Caatinga num estado como o Maranhão. No Baixo Parnaíba, desmatam-se áreas de Floresta Amazônica para virarem pasto e mais tarde, quem sabe, cana. O quanto o ex-deputado Kleber Leite pode vir a desmatar num empreendimento consorciado com um grupo paulista no município de São Benedito do Rio Preto?
Na região dos Cocais, município de Aldeias Altas, a TG Agroindústrial desmata a área de transição do Cerrado para a Caatinga para o plantio de cana e barra afluentes do rio Itapecuru, para reservarem suas águas para irrigação. Nessa zona limítrofe do desenvolvimento econômico e da expulsão de comunidades inteiras, não há boas vindas e o rótulo de combustível verde envelhece muito rápido na proporção que investimentos são feitos por grupos nacionais como a Andrade Gutierrez.
Esse texto contou com a participação da CPT Caxias e faz parte do projeto Desintoxicando os excessos do etanol: uma proposta de investigação da dinâmica e dos efeitos da propagação da cana de açúcar na região do Projeto Grande Carajás, projeto do STTR de Loreto, financiado pelo Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA)]
Por Mayron Régis, jornalista
É bem provável que, nessa história de agrocombustíveis, o Maranhão seja visto como a periferia da periferia, assim como já é visto com relação à produção da soja. Os maranhenses deveriam dar graças a Deus que o Maranhão possui as piores terras para a produção de grãos em todo o Brasil, como se enfada de dizer o atual presidente do sindicato de empresas de ferro-gusa do Maranhão, o senhor Cláudio Azevedo, mas constrange a inteligência de qualquer bom samaritano que o Estado sequer tenha sido lembrado na defesa do etanol quando da visita da chanceler alemã Ângela Merkel.
Os afortunados empresários do setor sucro-alcooleiro paulista assustam qualquer um com sua geografia dos canaviais, na qual a monocultura permanece estática em São Paulo sem apelar para novas áreas na Amazônia ou áreas próximas a ela. Uma geografia desse tipo só existiria em livros de décadas atrás que formavam estudantes em uma Geografia acrítica e despolitizada, que privilegiava a decoreba e contrasta com uma geografia que sai atrás para identificar as, e ponderar sobre as transformações socioambientais provocadas pela ação do homem no meio em que vive e no meio do qual ele vive. A Economia - os empresários a preferem em detrimento a outras ciências -, como ciência aparentada da Matemática, simplificaria essa ação humana no sentido de mera obtenção de recursos de um meio para a sua manutenção em outro e de tão raso do ponto de vista econômico quem investiria horas de trabalho para ponderar sobre as causas e as conseqüências “dessa mera obtenção de recursos”?
Cabe à Geografia descrever, além da superfície onde se pesquisam os recursos, as causas e as conseqüências “dessa mera obtenção de recursos” ou pelo menos relembrar aos afortunados que boa parte do estado do Maranhão interage com a Floresta Amazônica ou com o que sobrou dela depois do desarrumo causado por madeireiras e siderúrgicas. O ritmo das chuvas que vai do começo de dezembro ao mês de maio exprime o quanto o Maranhão intima a sua vida produtiva em consonância à umidade vinda da floresta.
É um crime contra a inteligência do indivíduo e contra a vida na zona rural que a legislação ambiental diferencie Amazônia, Cerrado e Caatinga num estado como o Maranhão. No Baixo Parnaíba, desmatam-se áreas de Floresta Amazônica para virarem pasto e mais tarde, quem sabe, cana. O quanto o ex-deputado Kleber Leite pode vir a desmatar num empreendimento consorciado com um grupo paulista no município de São Benedito do Rio Preto?
Na região dos Cocais, município de Aldeias Altas, a TG Agroindústrial desmata a área de transição do Cerrado para a Caatinga para o plantio de cana e barra afluentes do rio Itapecuru, para reservarem suas águas para irrigação. Nessa zona limítrofe do desenvolvimento econômico e da expulsão de comunidades inteiras, não há boas vindas e o rótulo de combustível verde envelhece muito rápido na proporção que investimentos são feitos por grupos nacionais como a Andrade Gutierrez.
Esse texto contou com a participação da CPT Caxias e faz parte do projeto Desintoxicando os excessos do etanol: uma proposta de investigação da dinâmica e dos efeitos da propagação da cana de açúcar na região do Projeto Grande Carajás, projeto do STTR de Loreto, financiado pelo Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA)]
Cana-de-açúcar : 200 mil hectares de grilagem no Maranhão 17.04.08
17.04.08
O governo do Maranhão em seus proclames para o mercado fixou um teto de quarenta usinas de etanol para os próximos anos o que, em termos práticos, arredondar-se-á de um milhão a dois milhões de hectares imolados, em nome de grandes grupos econômicos das regiões sul, sudeste e nordeste brasileiro, para o plantio de cana-de-açúcar.
Tendo o Estado de São Paulo como parâmetro de qualquer política de investimento no setor de agroenergia, vê-se que a conversão de áreas de cobertura vegetal nativa e de produção de alimentos em áreas incumbidas para a cana refluiu em certos momentos da recente história econômica do Brasil, mas os anos subseqüentes ao e o próprio ano de 2005 presenciaram e presenciam a indústria sucro-alcooleira abrangendo boa parte de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul como se, por conta dos investimentos do Pró-álcool, nos anos setenta, os empreendimentos mais anciãos e os empreendimentos mais jovens teimassem em ver na produção de etanol para consumo interno e para exportação o bem maior e mais original de um país tropical.
Quando nos referimos, por alto, a dois milhões de hectares que pousarão ou não nas mãos na indústria sucro-alcooleira nos anos mais à frente, fiquem certos que entre elas estão as melhores terras do Maranhão, como as dos municípios de Campestre e Porto Franco, oeste maranhense, onde o grupo Maity, um dos grandes beneficiários do Pró-álcool, compraz-se em prejudicar agricultores familiares, com seus funcionários e com policiais militares, para que suas rotinas produtivas se desajustem e desajustados produtivamente fica mais fácil para a empresa retirá-los da área.
Os agricultores familiares à beira do rio Tocantins se obstinam com as cercas da empresa que impedem a sua circulação ou impedem que recebam visitas; e os agricultores familiares de um assentamento federal se obstinam por verem plantios de cana e resíduos cercando-os, graças a assentados que arrendaram seus lotes para a Maity. Esta empresa padece de qualquer coisa, menos de humildade, afinal ajuda financeira e apoios de políticos sobram. Ela vai atrás de mais terra em Porto Franco. Encontrar-se-á com o Grupo Brasil, fundo de investimentos de aposentados do Banco do Brasil, para vê quem tem mais bala na agulha. Ou Maity engole ou o Grupo Brasil engole o restante das terras boas do oeste maranhense - um processo de tomada de terras para o plantio de cana, financiado pelo BNDES e fundos de investimentos locais e internacionais, e tomada mesmo, porque nessas terras viveram e vivem famílias por décadas e que, de repente, se vêem aceitando acordos com representantes de empresas cuja origem ninguém sabe e ninguém viu.
Uma das regiões com alta aptidão para o plantio de cana está localizada entre a baixada ocidental e o Baixo Parnaíba maranhenses, e um grupo paulista desmancharia com maior prazer essa região em um projeto de etanol com ajuda de documentos produzidos em cartórios de municípios da região, se não fosse necessária uma nova demarcação que comprove a legalidade dos documentos.
Por enquanto, duas mil e quinhentas pessoas estão a salvo de saírem definitivamente de suas áreas, porque a grilagem arrastaria 47 mil hectares e consta que um ex-deputado possui escritura de mais de 200 mil hectares incluindo Morros, Humberto de Campos, Bela Água, São Benedito do Rio Preto e Urbano Santos. A indústria sucro-alcooleira virá atrás de muita terra no Maranhão e, para conseguir, só com a grilagem.
Mayron Régis jornalista Fórum Carajás
O governo do Maranhão em seus proclames para o mercado fixou um teto de quarenta usinas de etanol para os próximos anos o que, em termos práticos, arredondar-se-á de um milhão a dois milhões de hectares imolados, em nome de grandes grupos econômicos das regiões sul, sudeste e nordeste brasileiro, para o plantio de cana-de-açúcar.
Tendo o Estado de São Paulo como parâmetro de qualquer política de investimento no setor de agroenergia, vê-se que a conversão de áreas de cobertura vegetal nativa e de produção de alimentos em áreas incumbidas para a cana refluiu em certos momentos da recente história econômica do Brasil, mas os anos subseqüentes ao e o próprio ano de 2005 presenciaram e presenciam a indústria sucro-alcooleira abrangendo boa parte de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul como se, por conta dos investimentos do Pró-álcool, nos anos setenta, os empreendimentos mais anciãos e os empreendimentos mais jovens teimassem em ver na produção de etanol para consumo interno e para exportação o bem maior e mais original de um país tropical.
Quando nos referimos, por alto, a dois milhões de hectares que pousarão ou não nas mãos na indústria sucro-alcooleira nos anos mais à frente, fiquem certos que entre elas estão as melhores terras do Maranhão, como as dos municípios de Campestre e Porto Franco, oeste maranhense, onde o grupo Maity, um dos grandes beneficiários do Pró-álcool, compraz-se em prejudicar agricultores familiares, com seus funcionários e com policiais militares, para que suas rotinas produtivas se desajustem e desajustados produtivamente fica mais fácil para a empresa retirá-los da área.
Os agricultores familiares à beira do rio Tocantins se obstinam com as cercas da empresa que impedem a sua circulação ou impedem que recebam visitas; e os agricultores familiares de um assentamento federal se obstinam por verem plantios de cana e resíduos cercando-os, graças a assentados que arrendaram seus lotes para a Maity. Esta empresa padece de qualquer coisa, menos de humildade, afinal ajuda financeira e apoios de políticos sobram. Ela vai atrás de mais terra em Porto Franco. Encontrar-se-á com o Grupo Brasil, fundo de investimentos de aposentados do Banco do Brasil, para vê quem tem mais bala na agulha. Ou Maity engole ou o Grupo Brasil engole o restante das terras boas do oeste maranhense - um processo de tomada de terras para o plantio de cana, financiado pelo BNDES e fundos de investimentos locais e internacionais, e tomada mesmo, porque nessas terras viveram e vivem famílias por décadas e que, de repente, se vêem aceitando acordos com representantes de empresas cuja origem ninguém sabe e ninguém viu.
Uma das regiões com alta aptidão para o plantio de cana está localizada entre a baixada ocidental e o Baixo Parnaíba maranhenses, e um grupo paulista desmancharia com maior prazer essa região em um projeto de etanol com ajuda de documentos produzidos em cartórios de municípios da região, se não fosse necessária uma nova demarcação que comprove a legalidade dos documentos.
Por enquanto, duas mil e quinhentas pessoas estão a salvo de saírem definitivamente de suas áreas, porque a grilagem arrastaria 47 mil hectares e consta que um ex-deputado possui escritura de mais de 200 mil hectares incluindo Morros, Humberto de Campos, Bela Água, São Benedito do Rio Preto e Urbano Santos. A indústria sucro-alcooleira virá atrás de muita terra no Maranhão e, para conseguir, só com a grilagem.
Mayron Régis jornalista Fórum Carajás
Cana no Maranhão disputa recursos com "cachorro-grande" 11.03.08
11.03.08
Por Mayron Regis, jornalista*
Baixo Parnaíba
Em que pese os seus quase quinhentos anos, a cultura da cana-de-açúcar remoçou bastante nesses cinco anos de governo do Partido dos Trabalhadores, graças às promessas de investimentos do governo federal, via BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social) e Petrobrás, e de fundos de investimentos de países industrializados como os Estados Unidos e Japão, embora, para as empresas sucro-alcooleiras solidificadas e para outras que podem vir a ser, as promessas ou os vislumbres de investimentos da parte do governo brasileiro mais despistem do que afiancem sobre a real monta dos recursos a executar em obras de infra-estrutura e empréstimos para as empresas se expandirem.
Nessa disparada pela obtenção do maior volume de recursos do governo federal ou dos parcos recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de fundos de investimentos, o estado de São Paulo leva cem léguas de vantagem à frente dos demais estados da federação. Qualquer menção à infra-estrutura quando se destila álcool não é mera conjetura: quem pretende exportar etanol ou só vender no mercado interno aguarda que o seu produto seja transportado da melhor maneira possível, da maneira mais barata e no menor espaço de tempo e nisso o estado de São Paulo predomina com a modernidade das suas estradas e de seus portos.
Como disse um funcionário da Agroserra, empresa paulista que esparsa a cana de açúcar pelo Cerrado sul-maranhense em Fortaleza dos Nogueiras: “São Paulo tem uma vantagem muito grande”. Esse mesmo funcionário repensa o mote etanol para regiões como Maranhão, pois para ele o BNDES não vai fomentar a contento os projetos, copiaram o PAC num papel e nada mais e a estrutura do porto de Itaqui pede socorro.
O governo do Maranhão pretende espetar 40 projetos de etanol nas mais diversas regiões do estado como se a estrutura econômica e social fosse a de um cachorro grande que nem São Paulo, portanto ou governo espeta fundo esses projetos e a população rural maranhense dessas regiões debanda para as periferias das cidades e beberão da mesma fonte de infortúnios que muitos bebem hoje em dia ou o governo os “deixa no espeto”, para que a sociedade respire fundo e rumine os impactos provenientes da possível implantação desses projetos para as populações urbana e rural e para os ecossistemas do Maranhão.
No caso do Maranhão, os impactos que a industria de cana proporcionará serão a rápida urbanização da zona rural, pela erradicação das populações e dos seus plantios para a introdução da monocultura, a diminuição da produção de alimentos, a perda da biodiversidade e a captação de milhões de litros de rios e de seus afluentes.
Conscientes ou não do que vem por aí, o governo federal e o governo estadual insistem na industrialização da zona rural e a sua subseqüente urbanização como as respostas mais promissoras para a modernização social e econômica de partes do Brasil e partes do Maranhão que remontam o seu estar e o seu existir nesse mundo às décadas de luta pela constituição de família, de luta pela terra e de luta para pôr algo de comer nos pratos dos filhos.
A tentativa recente de demarcação de 26 mil hectares por parte de um grupo paulista, nos municípios de São Benedito do Rio Preto, Bela Água e Urbano Santos – Baixo Parnaíba maranhense –, para plantar cana fez com que as comunidades destes três municípios em conjunto com a Fetaema, Fórum Carajás e Igreja de São Benedito revivessem décadas e décadas de conflitos pela posse daquelas terras, onde moram ao todo 2.000 pessoas.
No cartório de Urbano Santos, famoso por fraudes, o nome de João Damasceno Martins existe desde os anos setenta, sabe Deus se existe como pessoa ou como fantasma, e cujas duas tentativas de demarcação foram infrutíferas, pois o juiz considerou a documentação irregular. A tentativa de grilagem em que estão envolvidos políticos de calibre, repete as mesmas práticas licenciosas de grilagens de terras no Baixo Parnaíba maranhense para os plantadores de soja dos últimos anos.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás. Esse texto faz parte do projeto Desintoxicando os excessos do etanol: uma proposta de investigação da dinâmica e dos efeitos da propagação da cana de açúcar na região do Projeto Grande Carajás, projeto do STTR de Loreto, financiado pelo Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA)
Por Mayron Regis, jornalista*
Baixo Parnaíba
Em que pese os seus quase quinhentos anos, a cultura da cana-de-açúcar remoçou bastante nesses cinco anos de governo do Partido dos Trabalhadores, graças às promessas de investimentos do governo federal, via BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social) e Petrobrás, e de fundos de investimentos de países industrializados como os Estados Unidos e Japão, embora, para as empresas sucro-alcooleiras solidificadas e para outras que podem vir a ser, as promessas ou os vislumbres de investimentos da parte do governo brasileiro mais despistem do que afiancem sobre a real monta dos recursos a executar em obras de infra-estrutura e empréstimos para as empresas se expandirem.
Nessa disparada pela obtenção do maior volume de recursos do governo federal ou dos parcos recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de fundos de investimentos, o estado de São Paulo leva cem léguas de vantagem à frente dos demais estados da federação. Qualquer menção à infra-estrutura quando se destila álcool não é mera conjetura: quem pretende exportar etanol ou só vender no mercado interno aguarda que o seu produto seja transportado da melhor maneira possível, da maneira mais barata e no menor espaço de tempo e nisso o estado de São Paulo predomina com a modernidade das suas estradas e de seus portos.
Como disse um funcionário da Agroserra, empresa paulista que esparsa a cana de açúcar pelo Cerrado sul-maranhense em Fortaleza dos Nogueiras: “São Paulo tem uma vantagem muito grande”. Esse mesmo funcionário repensa o mote etanol para regiões como Maranhão, pois para ele o BNDES não vai fomentar a contento os projetos, copiaram o PAC num papel e nada mais e a estrutura do porto de Itaqui pede socorro.
O governo do Maranhão pretende espetar 40 projetos de etanol nas mais diversas regiões do estado como se a estrutura econômica e social fosse a de um cachorro grande que nem São Paulo, portanto ou governo espeta fundo esses projetos e a população rural maranhense dessas regiões debanda para as periferias das cidades e beberão da mesma fonte de infortúnios que muitos bebem hoje em dia ou o governo os “deixa no espeto”, para que a sociedade respire fundo e rumine os impactos provenientes da possível implantação desses projetos para as populações urbana e rural e para os ecossistemas do Maranhão.
No caso do Maranhão, os impactos que a industria de cana proporcionará serão a rápida urbanização da zona rural, pela erradicação das populações e dos seus plantios para a introdução da monocultura, a diminuição da produção de alimentos, a perda da biodiversidade e a captação de milhões de litros de rios e de seus afluentes.
Conscientes ou não do que vem por aí, o governo federal e o governo estadual insistem na industrialização da zona rural e a sua subseqüente urbanização como as respostas mais promissoras para a modernização social e econômica de partes do Brasil e partes do Maranhão que remontam o seu estar e o seu existir nesse mundo às décadas de luta pela constituição de família, de luta pela terra e de luta para pôr algo de comer nos pratos dos filhos.
A tentativa recente de demarcação de 26 mil hectares por parte de um grupo paulista, nos municípios de São Benedito do Rio Preto, Bela Água e Urbano Santos – Baixo Parnaíba maranhense –, para plantar cana fez com que as comunidades destes três municípios em conjunto com a Fetaema, Fórum Carajás e Igreja de São Benedito revivessem décadas e décadas de conflitos pela posse daquelas terras, onde moram ao todo 2.000 pessoas.
No cartório de Urbano Santos, famoso por fraudes, o nome de João Damasceno Martins existe desde os anos setenta, sabe Deus se existe como pessoa ou como fantasma, e cujas duas tentativas de demarcação foram infrutíferas, pois o juiz considerou a documentação irregular. A tentativa de grilagem em que estão envolvidos políticos de calibre, repete as mesmas práticas licenciosas de grilagens de terras no Baixo Parnaíba maranhense para os plantadores de soja dos últimos anos.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás. Esse texto faz parte do projeto Desintoxicando os excessos do etanol: uma proposta de investigação da dinâmica e dos efeitos da propagação da cana de açúcar na região do Projeto Grande Carajás, projeto do STTR de Loreto, financiado pelo Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA)
O Baixo Parnaíba e o agronegócio 03.03.08
03.03.08
Frente o avanço do agronegócio da soja, do eucalipto e das carvoarias sobre as áreas de chapada no Baixo Parnaíba maranhense, a criação de reservas extrativistas como a da Chapada Limpa – município de Chapadinha – lograria a façanha de reter parte do Cerrado leste maranhense para usufruto da agricultura familiar do Baixo Parnaíba, região que se notabiliza como uma das mais povoadas do estado do Maranhão e que, historicamente, enfeixou e vem enfeixando uma verdadeira confraria de tipos e biótipos nos biomas Cerrado, Semi-Árido, Amazônia, Mata dos Cocais e Litoral.
Era bem típico do esponjoso Baixo Parnaíba maranhense que as suas famílias de agroextrativistas e quilombolas se recolhessem a dez, vinte ou trinta hectares bem grudados a cursos de água que escorriam o ano todo, porque em qualquer discrepância sobre a real posse da terra eles pediriam a intromissão de um político ou de um proprietário de terras – personalidades que se confundem – para continuarem sendo pequenos agricultores e nada mais e nada menos que isso e, em razão dessa intromissão, eles seriam gratos pelo restante de suas vidas; quem se atrevesse a nodoar o real valor desse bem-feitor na frente da comunidade ficaria sapecado de fogo amigo.
Pelo que se sabe, os agricultores do Baixo Parnaíba são gente egressa do Ceará e do Piauí que, desfolhados pela seca e alquebrados pelos conflitos agrários, ingressaram calados no Maranhão na freqüência de roçarem aquela terra de poucos ventos, mas muita água e muita mata, de comerciarem umas sacas de arroz, feijão, milho e farinha de mandioca e umas latas de azeite de babaçu em suas quitandas e de apassivarem a sua excitabilidade causada pela saudade, por doenças, por brigas, pela pouca comida e pelo esforço físico inglório.
Em suma, transferir-se para uma área muito distante de onde mora e por motivos alheios a sua vontade só para melhorar de vida e nesse efeito, em certas regiões do Brasil, a melhor forma disso acontecer era agregar agricultura e comércio. Quem podia enviava os filhos para São Luís ou para uma capital maior do tamanho de um Rio de Janeiro para serem educados como filhos da elite e formarem-se em direito ou medicina. Eles salvaguardariam a família no futuro. Nas viagens de férias ao reduto da família a melhor lição de todas as lições : a sua formação se deve ao que foi erigido ou economizado por décadas. Em outras palavras, influência política e apropriação de parte da renda das famílias de agregados que plantavam naquelas terras com consentimento do patriarca da família.
Acaso essa estrutura agrária e social permanecesse no Baixo Parnaíba pelas mãos dos doutores da lei e da saúde, conceder-se-ia um atenuante para a dificuldade em modificar os baixos índices de desenvolvimento humano da região e para o flerte com setores da soja, do eucalipto e da cana-de-açúcar por parte do governo. O que se vê, entretanto, é que, mesmo não permanecendo com a mesma força de outrora, essa estrutura esquentou a entrada do agronegócio no Baixo Parnaíba com documentos falsos e coisa que o valha para enfim se retirarem do setor primário e investirem a receita obtida da venda de terras no setor de serviços.
Entrementes, afora a defensiva do discurso de que a produção de soja alimentará o mundo desenvolvido e subdesenvolvido, como se o problema da humanidade fosse um mero problema de mercado, a introdução de culturas exóticas nos Cerrados brasileiros escancarou a agricultura familiar para a providencial modernização predicada pelos organismos financeiros multilaterais e pelas agências de cooperação.
Numa sociedade com fortes vínculos escravagistas e autoritários, como a maranhense, intrometer-se em assuntos como reforma agrária e reforma do Estado é sofrer retaliações e, nesse caso, a intromissão do agronegócio no Baixo Parnaíba possibilitou uma relação trabalhista mais “moderna” desse setor com a classe trabalhadora e uma “desapropriação” de terras do Estado com vistas ao mercado agroexportador. Em geral, sociedades conservadoras e conformistas vêem a modernização sócio-econômica como o derradeiro sopro de vida que as impulsionará para longe da miséria. Um dos municípios com mais propriedade no trato com a soja no Baixo Parnaíba desde o final dos anos 90 tem sido Anapurus. Com tal propriedade que a soja e as carvoarias enfartaram o Cerrado do município que alguém pergunta: “Se não desmatamos, fazemos o quê?”
Qual tropeço fez com que as elites revogassem as suas expectativas perante o Baixo Parnaíba, afinal foram tantos tropeços? Quantas injustiças se completaram no repasse de áreas para o agronegócio da soja, como no caso da Guadalupe em Anapurus? No município de Chapadinha, o agronegócio da soja acalenta a posse da chapada dos Remédios com o aval dos proprietários tradicionais que esculacham comunidades de posseiros que pagaram renda por anos. Como em outros casos, a existência de posseiros e agroextrativistas em áreas da Chapada dos Remédios contraria os interesses da família do antigo proprietário Manoel Lyra que pretende despachar a comunidade da Vila Chapéu e vender a área para um plantador de soja. Despachando a comunidade fica fácil para a transferência de terras acontecer e fica mais fácil dos plantios de soja e das carvoarias rifarem os Bacurizeiros e os Pequizeiros.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás.
*Esse texto faz parte do projeto Chapada Limpa, financiado pelo Casa (Centro de Apoio Sócio-Ambiental).
Frente o avanço do agronegócio da soja, do eucalipto e das carvoarias sobre as áreas de chapada no Baixo Parnaíba maranhense, a criação de reservas extrativistas como a da Chapada Limpa – município de Chapadinha – lograria a façanha de reter parte do Cerrado leste maranhense para usufruto da agricultura familiar do Baixo Parnaíba, região que se notabiliza como uma das mais povoadas do estado do Maranhão e que, historicamente, enfeixou e vem enfeixando uma verdadeira confraria de tipos e biótipos nos biomas Cerrado, Semi-Árido, Amazônia, Mata dos Cocais e Litoral.
Era bem típico do esponjoso Baixo Parnaíba maranhense que as suas famílias de agroextrativistas e quilombolas se recolhessem a dez, vinte ou trinta hectares bem grudados a cursos de água que escorriam o ano todo, porque em qualquer discrepância sobre a real posse da terra eles pediriam a intromissão de um político ou de um proprietário de terras – personalidades que se confundem – para continuarem sendo pequenos agricultores e nada mais e nada menos que isso e, em razão dessa intromissão, eles seriam gratos pelo restante de suas vidas; quem se atrevesse a nodoar o real valor desse bem-feitor na frente da comunidade ficaria sapecado de fogo amigo.
Pelo que se sabe, os agricultores do Baixo Parnaíba são gente egressa do Ceará e do Piauí que, desfolhados pela seca e alquebrados pelos conflitos agrários, ingressaram calados no Maranhão na freqüência de roçarem aquela terra de poucos ventos, mas muita água e muita mata, de comerciarem umas sacas de arroz, feijão, milho e farinha de mandioca e umas latas de azeite de babaçu em suas quitandas e de apassivarem a sua excitabilidade causada pela saudade, por doenças, por brigas, pela pouca comida e pelo esforço físico inglório.
Em suma, transferir-se para uma área muito distante de onde mora e por motivos alheios a sua vontade só para melhorar de vida e nesse efeito, em certas regiões do Brasil, a melhor forma disso acontecer era agregar agricultura e comércio. Quem podia enviava os filhos para São Luís ou para uma capital maior do tamanho de um Rio de Janeiro para serem educados como filhos da elite e formarem-se em direito ou medicina. Eles salvaguardariam a família no futuro. Nas viagens de férias ao reduto da família a melhor lição de todas as lições : a sua formação se deve ao que foi erigido ou economizado por décadas. Em outras palavras, influência política e apropriação de parte da renda das famílias de agregados que plantavam naquelas terras com consentimento do patriarca da família.
Acaso essa estrutura agrária e social permanecesse no Baixo Parnaíba pelas mãos dos doutores da lei e da saúde, conceder-se-ia um atenuante para a dificuldade em modificar os baixos índices de desenvolvimento humano da região e para o flerte com setores da soja, do eucalipto e da cana-de-açúcar por parte do governo. O que se vê, entretanto, é que, mesmo não permanecendo com a mesma força de outrora, essa estrutura esquentou a entrada do agronegócio no Baixo Parnaíba com documentos falsos e coisa que o valha para enfim se retirarem do setor primário e investirem a receita obtida da venda de terras no setor de serviços.
Entrementes, afora a defensiva do discurso de que a produção de soja alimentará o mundo desenvolvido e subdesenvolvido, como se o problema da humanidade fosse um mero problema de mercado, a introdução de culturas exóticas nos Cerrados brasileiros escancarou a agricultura familiar para a providencial modernização predicada pelos organismos financeiros multilaterais e pelas agências de cooperação.
Numa sociedade com fortes vínculos escravagistas e autoritários, como a maranhense, intrometer-se em assuntos como reforma agrária e reforma do Estado é sofrer retaliações e, nesse caso, a intromissão do agronegócio no Baixo Parnaíba possibilitou uma relação trabalhista mais “moderna” desse setor com a classe trabalhadora e uma “desapropriação” de terras do Estado com vistas ao mercado agroexportador. Em geral, sociedades conservadoras e conformistas vêem a modernização sócio-econômica como o derradeiro sopro de vida que as impulsionará para longe da miséria. Um dos municípios com mais propriedade no trato com a soja no Baixo Parnaíba desde o final dos anos 90 tem sido Anapurus. Com tal propriedade que a soja e as carvoarias enfartaram o Cerrado do município que alguém pergunta: “Se não desmatamos, fazemos o quê?”
Qual tropeço fez com que as elites revogassem as suas expectativas perante o Baixo Parnaíba, afinal foram tantos tropeços? Quantas injustiças se completaram no repasse de áreas para o agronegócio da soja, como no caso da Guadalupe em Anapurus? No município de Chapadinha, o agronegócio da soja acalenta a posse da chapada dos Remédios com o aval dos proprietários tradicionais que esculacham comunidades de posseiros que pagaram renda por anos. Como em outros casos, a existência de posseiros e agroextrativistas em áreas da Chapada dos Remédios contraria os interesses da família do antigo proprietário Manoel Lyra que pretende despachar a comunidade da Vila Chapéu e vender a área para um plantador de soja. Despachando a comunidade fica fácil para a transferência de terras acontecer e fica mais fácil dos plantios de soja e das carvoarias rifarem os Bacurizeiros e os Pequizeiros.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás.
*Esse texto faz parte do projeto Chapada Limpa, financiado pelo Casa (Centro de Apoio Sócio-Ambiental).
CANA DE AÇUCAR: A HISTÓRIA SE REPETE COMO FARSA
São Luis, Ma, 03 de janeiro de 2008
“A História se repete como farsa”.
Com essa frase, escrita em o “18 Brumário de Napoleão Bonaparte”, sobre o golpe militar desferido por Napoleão 3º em 1851, contra o parlamento francês, Karl Marx rubrica com sua ironia o entrechoque na burguesia francesa que rasga o seu projeto de modernidade histórico-política e reveste a si e a seu mundo de prodigalidades consumistas, logo após os levantes populares de 1848 e a repressão política aos operários que se seguiu, como se o mundo dos materiais forjados no calor segurasse o escorrer da sua história pelo ralo – estabilize-se, então, uma história da relação do mundo orgânico com o mundo inorgânico que condiz, perfeitamente, com a História do mundo moderno, pois em nenhum outro momento uma relação encantou tanto a humanidade – para Walter Benjamin, filósofo alemão, o individuo burguês depositava sobre os novos materiais de construção, caso do ferro, uma afetividade que antes ele compartilhava, contudo esta afetividade vem contaminada de desejo de posse – “eu sou afetuoso desde que algo ou alguém me pertença ou desde que receba algo em troca”. As duas – História e farsa – andam juntas a incontáveis anos, embora a História se desvencilhasse da outra quando preciso.
O desmantelo a que se referiu Karl Marx surge quando o que pode ser comprovado pela narração histórica vacila e enfatiza-se, justamente, nas narrativas subseqüentes o episódico, sem que o conjunto esteja ordenado satisfatoriamente. Na eleição de Luis Bonaparte para presidente e em sua aclamação para imperador, os franceses queriam o tio dele de volta com suas glórias militares e como Napoleão Bonaparte morrera havia muito, só restava seu sobrinho para ocupar a vacância. O maior feito de Napoleão III foi desembrulhar a cidade de Paris, famosa por suas revoltas e por suas barricadas, para a modernidade estetizante dos novos materiais de construção – torre Eiffel - e para o capitalismo financeiro do final do século XIX e começo do século XX.
Para o novo mundo que se avizinhava, um mundo de descobertas científicas, transportes de massas e meios de comunicação infalíveis, as cidades deveriam se remodelar, ou seja, tanger o passado ou a miséria ou a fome ou a violência para longe do visual modernista das avenidas espaçosas de Paris. O verbo remodelar é a palavra-chave do capitalismo, principalmente, porque envolve o que este sistema econômico-social mobiliza de mais oportuno que é a imagem - “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Como a História se estruturou, em primeiro lugar, em torno da oralidade e depois em torno da escrita, perguntaríamos o seguinte: dá para relatar uma História que não seja por palavras, apenas com imagens, ou dá para relatar uma História escorando o seu discurso sobre imagens? Sociabilizados pelos meios de comunicação de massa, ficamos tentados a relatar uma História desgovernada, sem pé e nem cabeça; uma História cerceada pela velocidade dos acontecimentos; e uma História que viva de novidades e que esqueça da tradição.
No âmbito da discussão sobre os agrocombustíveis e sua sustentabilidade sócio-ambiental, botaram pra escanteio uma História que universaliza o conhecimento para privilegiar o confete e a serpentina das declarações mascaradas. A verdade é que a cultura política brasileira vive mais e mais de mascaramentos, quer dizer, poucos se atrevem a separar o que é real e o que é ilusório. Quando o presidente Luis Inácio Lula da Silva carimba os empresários do setor sucro-alcooleiro de heróis, esse carimbo adoça uma farsa, pois, historicamente, o setor sucro-alcooleiro representa destruição da Mata Atlântica, a escravidão de nações indígenas e africanas, o latifúndio em suas práticas insustentáveis de uso das melhores terras do Brasil e o esbanjamento de dinheiro público. E o setor não mudaria nesse começo do século XXI? Algumas declarações de empresários do setor provariam que a mudança é possível, contudo projetos recauchutados no leste maranhense, mais propriamente em Caxias e em Aldeias Altas, retraem essas expectativas. Comunidades de posseiros denunciam ameaças veladas de “seguranças” das empresas TG Agroindustrial e Comvap para que se retirem de áreas que ou estão em litígio ou foram compradas de forma irregular. Verifica-se também o barramento de vários afluentes do rio Itapecuru para irrigar os canaviais da empresa TG no município de Aldeias Altas.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Esse texto faz parte do projeto "Desintoxicando os excessos do etanol: uma proposta de investigação da dinâmica e dos efeitos da propagação da cana de açúcar na região do Projeto Grande Carajás", do STTR de Loreto, financiado pelo Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA)
“A História se repete como farsa”.
Com essa frase, escrita em o “18 Brumário de Napoleão Bonaparte”, sobre o golpe militar desferido por Napoleão 3º em 1851, contra o parlamento francês, Karl Marx rubrica com sua ironia o entrechoque na burguesia francesa que rasga o seu projeto de modernidade histórico-política e reveste a si e a seu mundo de prodigalidades consumistas, logo após os levantes populares de 1848 e a repressão política aos operários que se seguiu, como se o mundo dos materiais forjados no calor segurasse o escorrer da sua história pelo ralo – estabilize-se, então, uma história da relação do mundo orgânico com o mundo inorgânico que condiz, perfeitamente, com a História do mundo moderno, pois em nenhum outro momento uma relação encantou tanto a humanidade – para Walter Benjamin, filósofo alemão, o individuo burguês depositava sobre os novos materiais de construção, caso do ferro, uma afetividade que antes ele compartilhava, contudo esta afetividade vem contaminada de desejo de posse – “eu sou afetuoso desde que algo ou alguém me pertença ou desde que receba algo em troca”. As duas – História e farsa – andam juntas a incontáveis anos, embora a História se desvencilhasse da outra quando preciso.
O desmantelo a que se referiu Karl Marx surge quando o que pode ser comprovado pela narração histórica vacila e enfatiza-se, justamente, nas narrativas subseqüentes o episódico, sem que o conjunto esteja ordenado satisfatoriamente. Na eleição de Luis Bonaparte para presidente e em sua aclamação para imperador, os franceses queriam o tio dele de volta com suas glórias militares e como Napoleão Bonaparte morrera havia muito, só restava seu sobrinho para ocupar a vacância. O maior feito de Napoleão III foi desembrulhar a cidade de Paris, famosa por suas revoltas e por suas barricadas, para a modernidade estetizante dos novos materiais de construção – torre Eiffel - e para o capitalismo financeiro do final do século XIX e começo do século XX.
Para o novo mundo que se avizinhava, um mundo de descobertas científicas, transportes de massas e meios de comunicação infalíveis, as cidades deveriam se remodelar, ou seja, tanger o passado ou a miséria ou a fome ou a violência para longe do visual modernista das avenidas espaçosas de Paris. O verbo remodelar é a palavra-chave do capitalismo, principalmente, porque envolve o que este sistema econômico-social mobiliza de mais oportuno que é a imagem - “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Como a História se estruturou, em primeiro lugar, em torno da oralidade e depois em torno da escrita, perguntaríamos o seguinte: dá para relatar uma História que não seja por palavras, apenas com imagens, ou dá para relatar uma História escorando o seu discurso sobre imagens? Sociabilizados pelos meios de comunicação de massa, ficamos tentados a relatar uma História desgovernada, sem pé e nem cabeça; uma História cerceada pela velocidade dos acontecimentos; e uma História que viva de novidades e que esqueça da tradição.
No âmbito da discussão sobre os agrocombustíveis e sua sustentabilidade sócio-ambiental, botaram pra escanteio uma História que universaliza o conhecimento para privilegiar o confete e a serpentina das declarações mascaradas. A verdade é que a cultura política brasileira vive mais e mais de mascaramentos, quer dizer, poucos se atrevem a separar o que é real e o que é ilusório. Quando o presidente Luis Inácio Lula da Silva carimba os empresários do setor sucro-alcooleiro de heróis, esse carimbo adoça uma farsa, pois, historicamente, o setor sucro-alcooleiro representa destruição da Mata Atlântica, a escravidão de nações indígenas e africanas, o latifúndio em suas práticas insustentáveis de uso das melhores terras do Brasil e o esbanjamento de dinheiro público. E o setor não mudaria nesse começo do século XXI? Algumas declarações de empresários do setor provariam que a mudança é possível, contudo projetos recauchutados no leste maranhense, mais propriamente em Caxias e em Aldeias Altas, retraem essas expectativas. Comunidades de posseiros denunciam ameaças veladas de “seguranças” das empresas TG Agroindustrial e Comvap para que se retirem de áreas que ou estão em litígio ou foram compradas de forma irregular. Verifica-se também o barramento de vários afluentes do rio Itapecuru para irrigar os canaviais da empresa TG no município de Aldeias Altas.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Esse texto faz parte do projeto "Desintoxicando os excessos do etanol: uma proposta de investigação da dinâmica e dos efeitos da propagação da cana de açúcar na região do Projeto Grande Carajás", do STTR de Loreto, financiado pelo Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA)
O Chamado de Chapada Limpa
As nascentes bem seguras e bem altivas da reserva extrativista de
Chapada Limpa – município de Chapadinha – Baixo Parnaíba
maranhense; as comunidades de Chapada Limpa e Jussaral que
encorajaram uma informal subida por boa parte do alto Munim; e os
bacurizeiros que definem e que redefinem a geografia social,
ambiental e alimentar dessa microrregião apesar do e perante o
avanço pouco integro do agronegócio da soja e dos fornos de
carvoarias pertencentes a empresas contratadas pela Margusa,
sediada em Bacabeira, litoral maranhense, e pela Cosima, sediada em
Santa Inês, Amazônia maranhense.
Quem regerá a orquestra na reserva de Chapada Limpa depois da derrubada do bacurizeiro de sessenta galhos pelo arrasto dos tratores da empresa terceirizada da Cosima? Durante anos um dos ditos proprietários dos mais de onze mil hectares infundiu às comunidades o arresto de parte da farinha e dos bacuris como forma de pagamento por morarem na propriedade. Havia ali em Chapada Limpa por parte dos proprietários e dos políticos um temor de que um ideal subvencionasse uma mudança na realidade daquelas comunidades e, por conseguinte, a sua rejeição.
Com a proposta da criação da reserva extrativista, em que comunidades dialogavam com o Ibama, um pequeno tremor ressoou no chão de Chapadinha e de parte do Cerrado leste maranhense e os eventos surgidos mais tarde comprovariam que esse tremor fazia parte de uma seqüência de pequenos tremores que deslocariam os sentidos e as sensibilidades de muitos, até mesmo dos representantes do agronegócio, para os pronunciamentos de indivíduos sobre a importância de requerer áreas de Chapada em prol da conservação da diversidade ambiental e cultural – áreas que de tanto grilo fogem a uma análise que desmascare a conjunção agronegócio e estrutura estatal.
O chamado pela reserva extrativista de Chapada Limpa, a primeira reserva em áreas de Cerrado do estado do Maranhão, engendrou movimentos antagônicos: daqueles que rebuscavam a reserva em suas dinâmicas e daqueles que a pretendiam para futuros projetos de soja e de carvoaria.
A indústria da soja paga a si mesma e aos outros com as vistas no futuro. A própria mola que impulsiona o progresso insiste na idéia de um futuro em decadência e que, por isso, diminuir o peso da soja e de outras monoculturas nas exportações brasileiras seria inexeqüível, pois os proprietários de terra do Brasil se familiarizam em mais de cinco séculos com poucas espécies vegetais, dentre elas soja e cana de açúcar, quer dizer, a civilização dos alimentos baratos e a civilização dos combustíveis renováveis.
Como uma reserva extrativista com pouco mais de 11 mil hectares daria conta de estimular um futuro que ascenda num escaldado e escaldante Baixo Parnaíba de flagrantes abusos com relação aos direitos humanos por parte do setor político-empresarial? A poucos dias da assinatura do presidente, uma carta da associação representativa do agronegócio endereçada ao governador do Maranhão tentou fulminar o transcurso da reserva – as reuniões na comunidade de Jussaral, as mensagens de variados grupos sociais para a Casa Civil que embatucou o processo, o ajuntamento das comunidades em frente aos tratores e suas licenças de desmatamento e o final no encontro dos povos da floresta com a certeza da ratificação da reserva.
Contudo a mensagem apenas exemplificou que as suspeitas do agronegócio sobre os porquês da criação da reserva enceravam um modus operandi de inigualável aleivosia da parte dos setores empresarial e ambiental do estado que postulam o relaxamento do licenciamento de grandes empreendimentos e grandes desmatamentos em terras maranhenses, afinal Cosima, a Margusa e as suas empresas terceirizadas atocham as áreas de mata nativa do Cerrado maranhense em pedidos de desmatamento de áreas menores que 1000 hectares justamente para que o Estado aposente o licenciamento de grandes áreas que remonta a uma idéia “arcaica” do impacto ambiental como algo insolúvel e que prolonga seus efeitos por anos. E lá pelo final de 2006, o destino da Chapada Limpa poderia ser o mesmo de tantas outras áreas de Cerrado se os comunitários recuassem em sua determinação e aceitassem os desmatamentos licenciados pela Secretaria de Meio Ambiente – o decreto assinando a reserva extrativista de Chapada Limpa foi assinado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva no dia 26 de setembro de 2007.
A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, membro do Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba, diligenciou junto à Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Maranhão que libere todos os documentos relativos a licenças de desmatamento no Baixo Parnaíba, pois, tal qual um tribunal de exceção, a secretaria sentencia uma determinada área ao desmatamento compulsório à revelia. Isso é: sem que os afetados diretamente e demais envolvidos no processo conheçam a fundo os dados técnicos do empreendimento e as informações arroladas pelos analistas do órgão licenciador no parecer final.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Esse texto faz parte do projeto Chapada Limpa, financiado pelo Casa (Centro de Apoio Sócio-Ambiental).
Quem regerá a orquestra na reserva de Chapada Limpa depois da derrubada do bacurizeiro de sessenta galhos pelo arrasto dos tratores da empresa terceirizada da Cosima? Durante anos um dos ditos proprietários dos mais de onze mil hectares infundiu às comunidades o arresto de parte da farinha e dos bacuris como forma de pagamento por morarem na propriedade. Havia ali em Chapada Limpa por parte dos proprietários e dos políticos um temor de que um ideal subvencionasse uma mudança na realidade daquelas comunidades e, por conseguinte, a sua rejeição.
Com a proposta da criação da reserva extrativista, em que comunidades dialogavam com o Ibama, um pequeno tremor ressoou no chão de Chapadinha e de parte do Cerrado leste maranhense e os eventos surgidos mais tarde comprovariam que esse tremor fazia parte de uma seqüência de pequenos tremores que deslocariam os sentidos e as sensibilidades de muitos, até mesmo dos representantes do agronegócio, para os pronunciamentos de indivíduos sobre a importância de requerer áreas de Chapada em prol da conservação da diversidade ambiental e cultural – áreas que de tanto grilo fogem a uma análise que desmascare a conjunção agronegócio e estrutura estatal.
O chamado pela reserva extrativista de Chapada Limpa, a primeira reserva em áreas de Cerrado do estado do Maranhão, engendrou movimentos antagônicos: daqueles que rebuscavam a reserva em suas dinâmicas e daqueles que a pretendiam para futuros projetos de soja e de carvoaria.
A indústria da soja paga a si mesma e aos outros com as vistas no futuro. A própria mola que impulsiona o progresso insiste na idéia de um futuro em decadência e que, por isso, diminuir o peso da soja e de outras monoculturas nas exportações brasileiras seria inexeqüível, pois os proprietários de terra do Brasil se familiarizam em mais de cinco séculos com poucas espécies vegetais, dentre elas soja e cana de açúcar, quer dizer, a civilização dos alimentos baratos e a civilização dos combustíveis renováveis.
Como uma reserva extrativista com pouco mais de 11 mil hectares daria conta de estimular um futuro que ascenda num escaldado e escaldante Baixo Parnaíba de flagrantes abusos com relação aos direitos humanos por parte do setor político-empresarial? A poucos dias da assinatura do presidente, uma carta da associação representativa do agronegócio endereçada ao governador do Maranhão tentou fulminar o transcurso da reserva – as reuniões na comunidade de Jussaral, as mensagens de variados grupos sociais para a Casa Civil que embatucou o processo, o ajuntamento das comunidades em frente aos tratores e suas licenças de desmatamento e o final no encontro dos povos da floresta com a certeza da ratificação da reserva.
Contudo a mensagem apenas exemplificou que as suspeitas do agronegócio sobre os porquês da criação da reserva enceravam um modus operandi de inigualável aleivosia da parte dos setores empresarial e ambiental do estado que postulam o relaxamento do licenciamento de grandes empreendimentos e grandes desmatamentos em terras maranhenses, afinal Cosima, a Margusa e as suas empresas terceirizadas atocham as áreas de mata nativa do Cerrado maranhense em pedidos de desmatamento de áreas menores que 1000 hectares justamente para que o Estado aposente o licenciamento de grandes áreas que remonta a uma idéia “arcaica” do impacto ambiental como algo insolúvel e que prolonga seus efeitos por anos. E lá pelo final de 2006, o destino da Chapada Limpa poderia ser o mesmo de tantas outras áreas de Cerrado se os comunitários recuassem em sua determinação e aceitassem os desmatamentos licenciados pela Secretaria de Meio Ambiente – o decreto assinando a reserva extrativista de Chapada Limpa foi assinado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva no dia 26 de setembro de 2007.
A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, membro do Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba, diligenciou junto à Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Maranhão que libere todos os documentos relativos a licenças de desmatamento no Baixo Parnaíba, pois, tal qual um tribunal de exceção, a secretaria sentencia uma determinada área ao desmatamento compulsório à revelia. Isso é: sem que os afetados diretamente e demais envolvidos no processo conheçam a fundo os dados técnicos do empreendimento e as informações arroladas pelos analistas do órgão licenciador no parecer final.
Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás
Esse texto faz parte do projeto Chapada Limpa, financiado pelo Casa (Centro de Apoio Sócio-Ambiental).
Fórum Carajás quer revisão do licenciamento da Margusa
No Baixo Parnaíba
maranhense, as visões divergentes sobre o mundo bravio se
afunilaram e se afunilam em possessões e tentativas de possessões
de áreas prioritárias para a conservação do bioma Cerrado e para o
congraçamento das suas populações tradicionais.
Os artesãos do povoado de São João dos Pilões – município de Brejo – que o digam: incorreram no erro de venderem suas posses aos plantadores de soja – se pudessem, corrigiriam esse rumo que os levou à completa escassez dos pequizeiros na região de São João dos Pilões.
Naquele trecho que ruma para os municípios de Buriti de Inácia Vaz, Duque Bacelar e Coelho Neto – perseguia-se uma nascente do riacho Estrela – afluente do rio Preto – bacia do Munim.- guiados pelo senhor Pedro, descendente de franceses e morador do povoado Cajueiro 2, município de Mata Roma, em cuja sede haviam obtido a informação do sumiço de uma das nascentes do riacho Estrela, o mesmo que transbordara do seu leito em maio de 2007 pelo excessivo volume de água depositado pela chuva em um só dia e fora tamanha a chuva que pouquíssima gente viu nisso uma fonte de alegria e de recompensa; contudo, intentando a venda do máximo de propriedades, os corretores de imóveis afiançaram aos plantadores de soja que de janeiro a maio as chuvas no Baixo Parnaíba caem de forma regular.
Nos Cerrados, os caminhos de terra chicoteiam a mata nativa da entrada aos fundos das fazendas de soja – fazenda Palmeira – grupo SLC – a mais produtiva do grupo. Quando se viaja por uma rodovia asfaltada de um município a outro, a visão dos campos de soja se ligeiriza e aos poucos esta visão estabiliza num conformismo quase indestrutível de que a soja veio pra ficar e de que os crimes ambientais cometidos por A ou B estão na proporção exata das conquistas econômicas trazidas pelos plantadores de soja e pelas tradings para o Baixo Parnaíba - uma visão minúscula perante o mundão de Cerrado porque justifica um mal que atinge em cheio populações confinadas ao bioma com um pretenso bem que atinge uma parcela restrita da sociedade civil – uma visão minúscula perante o mundão de Cerrado porque os setores econômicos que a difundem são os sojicultores e as siderúrgicas, os maiores destruidores dos Cerrados – uma visão minúscula porque enxergamos o Cerrado apressadamente e de longe como se os nossos olhos redargüissem um mundo em pouca conformidade com o mundo das imagens urbanas.
Alguém memorizou a nascente do riacho Estrela pelo que ela nutria de umidade as chapadas mais baixas dos municípios de Buriti, Mata Roma e Anapurus. Alguém acampou na nascente com seus animais de transporte e com seus mantimentos para o mês. Alguém divagou sobre a sorte da nascente serenar quem ali se detinha.
O senhor Pedro reside perto da extinta nascente do riacho Estrela e conta isso de ouvir dizer, relembrando conversas sérias com um antigo morador. A nascente fendia o chão naquele trecho e desde final dos anos 90, com a compra de terras (griladas) pela SLC, fora aterrada para o plantio de soja nessa que é a fazenda mais produtiva do grupo. Então, é preciso revisar o Cerrado das atrocidades cometidas pelo agronegócio por dentro - o que está adormecido e o que está prestes a despertar por força da conjuntura social e econômica como o projeto de reflorestamento com eucalipto da Margusa para as bacias dos rios Munim, Preguiças e Parnaíba. Diante das audiências ocorridas nos dias 12 e 13 de setembro, em Santa Quitéria e Urbano Santos, se evidencia a pré-disposição do governo Estadual licenciar o empreendimento sem pedir novos estudos num quadro em que o EIA-Rima original padece de fragilidades.
Portanto, o Fórum Carajás e as organizações aliadas pedem a suspensão de todo o processo de licenciamento do projeto da Margusa.
Mayron Régis, jornalista
20.09.07
Esse texto faz parte da campanha Monitorando a bacia do Rio Munim, projeto da Associação Agroeocológica Tijupá, com financiamento do fundo soja do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).
Os artesãos do povoado de São João dos Pilões – município de Brejo – que o digam: incorreram no erro de venderem suas posses aos plantadores de soja – se pudessem, corrigiriam esse rumo que os levou à completa escassez dos pequizeiros na região de São João dos Pilões.
Naquele trecho que ruma para os municípios de Buriti de Inácia Vaz, Duque Bacelar e Coelho Neto – perseguia-se uma nascente do riacho Estrela – afluente do rio Preto – bacia do Munim.- guiados pelo senhor Pedro, descendente de franceses e morador do povoado Cajueiro 2, município de Mata Roma, em cuja sede haviam obtido a informação do sumiço de uma das nascentes do riacho Estrela, o mesmo que transbordara do seu leito em maio de 2007 pelo excessivo volume de água depositado pela chuva em um só dia e fora tamanha a chuva que pouquíssima gente viu nisso uma fonte de alegria e de recompensa; contudo, intentando a venda do máximo de propriedades, os corretores de imóveis afiançaram aos plantadores de soja que de janeiro a maio as chuvas no Baixo Parnaíba caem de forma regular.
Nos Cerrados, os caminhos de terra chicoteiam a mata nativa da entrada aos fundos das fazendas de soja – fazenda Palmeira – grupo SLC – a mais produtiva do grupo. Quando se viaja por uma rodovia asfaltada de um município a outro, a visão dos campos de soja se ligeiriza e aos poucos esta visão estabiliza num conformismo quase indestrutível de que a soja veio pra ficar e de que os crimes ambientais cometidos por A ou B estão na proporção exata das conquistas econômicas trazidas pelos plantadores de soja e pelas tradings para o Baixo Parnaíba - uma visão minúscula perante o mundão de Cerrado porque justifica um mal que atinge em cheio populações confinadas ao bioma com um pretenso bem que atinge uma parcela restrita da sociedade civil – uma visão minúscula perante o mundão de Cerrado porque os setores econômicos que a difundem são os sojicultores e as siderúrgicas, os maiores destruidores dos Cerrados – uma visão minúscula porque enxergamos o Cerrado apressadamente e de longe como se os nossos olhos redargüissem um mundo em pouca conformidade com o mundo das imagens urbanas.
Alguém memorizou a nascente do riacho Estrela pelo que ela nutria de umidade as chapadas mais baixas dos municípios de Buriti, Mata Roma e Anapurus. Alguém acampou na nascente com seus animais de transporte e com seus mantimentos para o mês. Alguém divagou sobre a sorte da nascente serenar quem ali se detinha.
O senhor Pedro reside perto da extinta nascente do riacho Estrela e conta isso de ouvir dizer, relembrando conversas sérias com um antigo morador. A nascente fendia o chão naquele trecho e desde final dos anos 90, com a compra de terras (griladas) pela SLC, fora aterrada para o plantio de soja nessa que é a fazenda mais produtiva do grupo. Então, é preciso revisar o Cerrado das atrocidades cometidas pelo agronegócio por dentro - o que está adormecido e o que está prestes a despertar por força da conjuntura social e econômica como o projeto de reflorestamento com eucalipto da Margusa para as bacias dos rios Munim, Preguiças e Parnaíba. Diante das audiências ocorridas nos dias 12 e 13 de setembro, em Santa Quitéria e Urbano Santos, se evidencia a pré-disposição do governo Estadual licenciar o empreendimento sem pedir novos estudos num quadro em que o EIA-Rima original padece de fragilidades.
Portanto, o Fórum Carajás e as organizações aliadas pedem a suspensão de todo o processo de licenciamento do projeto da Margusa.
Mayron Régis, jornalista
20.09.07
Esse texto faz parte da campanha Monitorando a bacia do Rio Munim, projeto da Associação Agroeocológica Tijupá, com financiamento do fundo soja do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).
Baixo Parnaíba agora é de terceiros...
Eles incursionaram pelos municípios de Mata Roma e Anapurus – Baixo Parnaíba maranhense - de uma fazenda de soja a outra como poucos se arriscaram ou se arriscariam, em um curto espaço de tempo, espreitando funcionários de empresas terceirizadas da Margusa, subsidiária da Gerdau, que encabeçam a derrubada de hectares de Cerrado à base de correntão e que enchem os fornos das carvoarias com as vulnerabilidades dos pequis e dos bacuris para carvoejarem livremente de acordo com as licenças de operação consagradas pela secretaria de meio ambiente ao desenvolvimento do livre comércio do ferro-gusa.
Sempre a postos – os terceirizados da Margusa se aprofundam por áreas do Cerrado incólumes – cada um desses funcionários veio de um município próximo à Mata Roma e a Anapurus ou de povoados destes dois municípios - as suas raízes ou partes delas se desmanchando a cada desmatamento urgente convocado pela empresa ou bastaria um ou dois desmatamentos para que se desmanchem por completo? Num ambiente turvo, inóspito e seco como o das carvoarias, devido à fumaça expelida e o despovoamento de espécies nativas como o pequi e o bacuri, os terceirizados selam a sua sorte e das comunidades vizinhas à medida que a secretaria de meio ambiente do Maranhão licencia mais áreas para o desmatamento e para o carvoejamento. Quanto mais ela licencia, mais os terceirizados se descuidam do Cerrado e de suas raízes.
O responsável pela carvoaria na fazenda Santa Rita - propriedade do senhor Marcio Adamavicz - que a Margusa arrendou em 2006 - povoado Mucura - município de Anapurus – cozinhou os peixes para os membros do coletivo que, compenetrados, davam um tempo até à hora do almoço - um pouco curvados pelo põe e repõe de madeira nos fornos da carvoaria - de ano em ano, a secretaria do meio ambiente ou qualquer órgão que seja dá o ar da graça e fiscaliza a estrutura habitacional onde residem os terceirizados – licenciou-se a carvoaria por dois anos. Quanto ao meio ambiente...
Quem se policiaria a tal ponto de evitar o desmatamento do pequi e do bacuri? Nos mais de 200 hectares da fazenda Santa Rita, o correntão da Margusa mutilou pequis, bacuris e mais outras espécies do Cerrado. Os terceirizados da Margusa, da Cosima e de outras siderúrgicas perdem as contas de quantas carvoarias os empregaram - a conta dos pés de pequi e de bacuri que se perderam no faz de conta das licenças de operação. A propósito de licenças de operação que inquietam o espírito, como justificar a concessão da licença para a fazenda Santa Rita quando as nascentes do rio Preguiças se localizam bem próximas a esta fazenda? Quem sabe, os técnicos da Sema assinaram a licença como quem assina um óbito – sem prestar maiores atenções no projeto, na área e etc. Nem se deram ao menor trabalho de cruzar informações – ao lado da fazenda, uma das áreas arrendadas pela Paineiras para o projeto da Margusa em licenciamento junto à própria Sema. E o responsável pela carvoaria asseverou que a área será licenciada. Ele segue bem as linhas que unem os setores produtivos ao setor ambiental no Maranhão.
Mayron Régis, jornalista
########
Esse texto faz parte da campanha Monitorando a bacia do Rio Munim, projeto da Associação Agroeocológica Tijupá, com financiamento do fundo soja do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).